O silêncio da madrugada foi quebrado pelo choro desesperado da mulher, anunciando que o bebê não respirava mais. O homem correu, desesperado, mas ao tocar o pequeno corpo embrulhado num cobertor, sentiu a frieza e a imobilidade que o fizeram acreditar no pior.
As horas seguintes foram um borrão. Vizinhos chegaram, palavras de consolo ecoaram, e alguém se ofereceu para “cuidar de tudo” para que o pai não precisasse sofrer ainda mais. O caixãozinho chegou fechado, lacrado, e todos repetiam que era melhor não abrir.
No cemitério, o peso parecia mínimo, mas ele atribuía aquilo à fragilidade do filho que mal havia conhecido. A terra o cobriu, e com ela, o último resquício de esperança.
Dias depois, a inquietação cresceu. O caixão ser tão leve, a pressa para sepultar… nada fazia sentido. Tomado por uma mistura de culpa e raiva, decidiu fazer o impensável: voltar ao túmulo.
Com as mãos trêmulas, retirou a tampa. O que viu gelou-lhe o sangue — não havia corpo algum. Apenas um boneco de pano, com traços toscos, coberto pelo mesmo cobertor que havia tocado naquela madrugada.
O luto deu lugar à revolta. Agora, a dor não vinha apenas da perda, mas da certeza de que havia sido enganado. E no ar ficou a pergunta que tiraria seu sono para sempre: onde estava seu filho de verdade?
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