Filho de Afonso assume que vai...

 


Afonso Dhlakama e Venâncio Mondlane: duas faces da oposição em Moçambique

A política moçambicana tem sido marcada por figuras emblemáticas que desafiaram o poder dominante da FRELIMO ao longo da história. Entre elas, Afonso Dhlakama e Venâncio Mondlane ocupam lugares distintos, mas com pontos de contacto que os unem na narrativa da oposição em Moçambique.

O legado de Afonso Dhlakama

Líder histórico da RENAMO, Afonso Dhlakama emergiu durante a guerra civil (1977–1992), comandando uma força armada que disputava o poder contra o governo da FRELIMO. Após a assinatura dos Acordos de Paz de Roma em 1992, Dhlakama transformou a RENAMO num partido político, tornando-se o rosto da oposição institucionalizada.
Apesar de nunca ter alcançado a Presidência, foi candidato em todas as eleições presidenciais entre 1994 e 2014, reunindo sempre um número significativo de votos, o que consolidou o seu papel como “pai da democracia multipartidária” para muitos dos seus apoiantes.
Dhlakama manteve uma relação de confronto constante com o governo, alternando entre a política e a ameaça de regresso às armas, o que lhe conferia tanto carisma como controvérsia.

O surgimento de Venâncio Mondlane

Duas décadas mais tarde, Venâncio Mondlane surge como uma nova voz da oposição, inicialmente integrado na FRELIMO, depois no MDM, até se tornar líder do PODEMOS, partido pelo qual concorre às eleições presidenciais de 2024.
Mondlane distingue-se pela forma como mobiliza a juventude e pela linguagem direta contra as desigualdades sociais, corrupção e má governação. A sua estratégia passa mais por manifestações civis e pressão popular do que pela lógica militar que caracterizou a trajetória da RENAMO sob Dhlakama.
Tem ganho destaque por iniciativas como as greves nacionais e as caravanas de proximidade com o povo, onde se apresenta como líder próximo, acessível e defensor da mudança.

Semelhanças entre os dois

  • Ambos se apresentam como símbolos de resistência contra o poder da FRELIMO.
  • Conseguiram criar legiões de seguidores fiéis, que os veem como “voz do povo”.
  • Representam alternativas fora do tradicional domínio da FRELIMO.
  • São líderes carismáticos, capazes de mobilizar multidões.

Diferenças marcantes

  • Estratégia: Dhlakama misturava luta armada e política; Mondlane aposta na mobilização civil e manifestações pacíficas.
  • Contexto histórico: Dhlakama atuou num período de guerra e transição democrática; Mondlane surge numa democracia consolidada, mas marcada por acusações de fraude eleitoral.
  • Estilo: Dhlakama era reservado e por vezes enigmático; Mondlane é comunicador, ativo nas redes sociais e próximo da juventude.
  • Partido: Dhlakama liderou a RENAMO até à sua morte em 2018; Mondlane construiu a sua trajetória mudando de siglas e fundando uma nova plataforma política.

Duas figuras, uma luta comum

Embora separados pelo tempo e pelas estratégias, tanto Afonso Dhlakama quanto Venâncio Mondlane convergem no mesmo propósito: desafiar a hegemonia da FRELIMO e oferecer uma alternativa política em Moçambique.
Se Dhlakama marcou a primeira fase da oposição, entre a guerra e o multipartidarismo, Mondlane apresenta-se como o rosto da nova geração, adaptado às dinâmicas urbanas, digitais e sociais do século XXI.



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